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A resistência da agroecologia no Pantanal

Articulação Nacional de Agroecologia / Facebook

A produção agroecológica é uma realidade que os donos do poder - os mesmos que comandam a produção de commodities - fazem de tudo para não dar visibilidade

Najar Tubino - Carta Maior

Articulação Nacional de Agroecologia / Facebook

 

Cáceres (MT) – Na verdade trabalhar com este tema no estado campeão na produção de soja, com mais de 24 milhões de toneladas, com uma percentagem de veneno distribuída entre a população de quase 10 litros por habitante é um risco sério, que inclui ameaças de todos os tipos, boicote dos governos estadual e municipais e a descrença de muitos agricultores e agricultoras, depois de muitos anos de abandono. O termo correto seria resiliência dos grupos organizados na FASE, no Fórum de Meio Ambiente e Desenvolvimento (FORMAD) e no Grupo de Intercâmbio em Agricultura Sustentável (GIAS), que trabalham com agricultura familiar e agroecologia. O GIAS está comemorando 15 anos e durante dois dias – 26 e 27 de novembro – realiza um Seminário sobre Comercialização e Certificação de Produtos Agroecológicos. No evento também foram apresentados os resultados do Projeto Agroecologia em Rede, da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), que envolve o perfil de três agroecossistemas do Sudoeste do Mato Grosso, onde Cáceres, cidade fundada há 240 anos na beira do rio Paraguai e na fronteira com a Bolívia com 90 mil habitantes é o polo regional. Os técnicos da FASE participaram do levantamento de dados e das discussões dos três famílias analisadas.
 

EUA suspendem herbicida da Dow

Por Bettina Barros, do Valor Econômico

A Agência de Proteção Ambiental americana (EPA, na sigla em inglês) retirou a aprovação do herbicida Enlist Duo, desenvolvido pela Dow AgroSciences, alegando novas evidências de que o agrotóxico atinge também outras plantas além das ervas daninhas.

A decisão da agência americana se baseou no questionamento de grupos ambientais de que a combinação química do produto é "bem provavelmente" mais danosa que o pensado inicialmente.

O "Enlist Duo" foi aprovado pela EPA há pouco mais de um ano e é resultado da combinação de glifosato e 2,4­D.

O produto é parte do chamado "Sistema Enlist de Controle de Ervas Daninhas", que traz uma tecnologia para soja e milho baseada em um "trait" (evento transgênico) que torna as plantas tolerantes ao herbicida. No Brasil, o Enlist está sob análise da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) desde 2012.

Ocorre que o uso do 2,4­D tem enfrentado muita resistência ao redor do mundo, por ser um dos componentes do agente laranja, usado durante a guerra do Vietnã.

No plano da agricultura, disse ainda Stédile, o …

No plano da agricultura, disse ainda Stédile, o capitalismo financeiro sequestrou a principal função social dessa atividade, que é a produção de alimentos para a reprodução da vida humana. “O capitalismo sequestrou essa função e transformou-a em um mero mecanismo de apropriação de riqueza. Houve uma nova divisão internacional da produção agrícola. Um grupo de aproximadamente 50 empresas decidiu, por exemplo, que o Brasil deveria passar a produzir fundamentalmente soja, carne de gado, etanol e celulose. No Brasil, 85% das terras cultivadas, se destinam só a cinco culturas: soja, milho, pastagem, cana de açúcar e eucalipto. Cerca de 70 mil proprietários de terra fizeram uma aliança com essas empresas para implementar esse modelo. A Argentina, que no século XX chegou a ser chamada de celeiro do mundo, hoje só produz soja”.

Transgênicos: a estratégia da inovação de exterminadores e traidores

EBC

 As sementes exterminadoras e traidoras agregam um mecanismo composto de vários transgenes que bloqueiam o seu uso, destruindo a biodiversidade mundial.

Najar Tubino, na Carta Maior

EBC

Trata-se de um caso histórico de dominação, via tecnologia, de um setor estratégico na vida das populações mundo afora – o das sementes. O assunto voltou à tona no Brasil, com a iniciativa do deputado federal Alceu Moreira (PMDB-RS), cuja profissão original é comerciante, de alterar a Lei de Biossegurança, de 2005, que proibiu o uso de tecnologias genéticas de restrição, GURT, na sigla em inglês. Na linguagem científica definem como variedades V-GURT ou T-GURT, que mundialmente ficou conhecida como semente exterminadora (terminator) e traidora (traitor). A primeira é programada para não reproduzir na segunda geração, portanto, uma semente estéril, e a outra, só reproduzirá se for induzida por um agente químico, lógico, o mesmo produzido pela empresa.
 
A mudança que a bancada ruralista pretende emplacar na Comissão de Agricultura é para tornar possível o uso das tecnologias em qualquer cultura onde o resultado é considerado benéfico. Mas essa iniciativa não é uma proposta solta no mercado, embora o Brasil seja o segundo país no plantio de transgênicos – soja, milho e algodão. A tecnologia de restrição foi criada na década de 1990, no auge do neoliberalismo. O governo dos Estados Unidos, por intermédio do Departamento de Agricultura, contratou o cientista inglês Melvin Oliver, para desenvolver um sistema de proteção de tecnologias inseridas em sementes, patenteadas em 1998, juntamente com outra ação da Delta & Pine Land, empresa posteriormente comprada pela Monsanto. 

Agronegócio desobedece os principais pontos da legislação sobre agrotóxicos

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A ilegalidade está na pesquisa, experimentação, produção, embalagem, rotulagem, transporte, armazenamento, comercialização, publicidade e utilização desses produtos. Outdoors anunciando todo tipo de agrotóxico – o que é ilegal – é comum nas estradas brasileiras, conforme o MP do RS

um baita.jpeg Por Cida de Oliveira

Da RBA

A Constituição e a Lei Federal 7.802/89, que disciplina a pesquisa, a experimentação, produção, embalagem, rotulagem, transporte, armazenamento, comercialização, publicidade, utilização, fiscalização e controle dos agrotóxicos são desrespeitadas pela agricultura nacional. A denúncia é do promotor de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Sul em Catuípe, Nilton Kasctin dos Santos. Com formação em Direito e especialização em Direito Comunitário pela Escola Superior do Ministério Público, o ex-delegado da Polícia Federal trocou a PF pela defesa do meio ambiente e atua também como conferencista e articulista em diversas publicações.

 De acordo com o promotor, a desobediência já começa com a prescrição de venenos por  agrônomos ou técnicos agrícolas que nem sequer examinaram a lavoura para conhecer suas características e necessidades. Tal procedimento consta do artigo 15º da Lei 7.802/89 (Lei dos Agrotóxicos). A pena prevista é de dois a quatro anos de reclusão para quem descumprir.

 “É comum esses profissionais assinarem receituários sem ter visitado e diagnosticado a lavoura. Como um médico examina o paciente para identificar a doença e receitar o remédio, o agrônomo deve examinar a lavoura. Só então poderá decidir se há necessidade do uso de veneno e qual o tipo", compara.

Monsanto começa a dar adeus ao Glifosato… mas isso não é uma boa notícia

Empresa americana inicia pesados investimentos em novo herbicida. Reunião da CTNBio de amanhã já tem na pauta transgênicos resistentes ao Dicamba

da Campanha Contra os Agrotóxicos, com informações da Reuters

Pouco a pouco, o império do Glifosato vai ruindo. Seja pelo vertiginoso aumento de incidência das plantas resistentes, seja pelas cada vez mais contundentes provas da carcinogenicidade do herbicida, não é muito difícil imaginar que estamos caminhando para o fim do ciclo do agrotóxico mais utilizado no mundo.

Entretanto, o que poderia parecer uma boa notícia, na verdade não é. Obviamente, a indústria já se antecipou e vem desenvolvendo alternativas para seguir lucrando sobre o envenenamento da população.

Prova disso são os investimentos da Monsanto na produção do Dicamba, um novo herbicida. A Dow Chemical, por sua vez, aposta no velho conhecido 2,4-D, que vem desde o agente laranja da guerra do Vietnã até o nosso prato de comida.

Nos início do ano, a CTNBio já aprovou os transgênicos resistentes ao 2,4-D com Glifosato. Na reunião dos dias 7 e 8 de outubro, entram na pauta as sementes resistentes à mistura da Dicamba com Glifosato.

Infelizmente, sabemos como nosso órgão regulador funciona, e não há nada que esperar diferente de uma aprovação.

Abaixo, a tradução de matéria da Reuters sobre o Dicamba. Destaque absoluto para a pérola dita por um "analista": "A realidade é que a indústria vai ter que continuar evoluindo assim como as plantas evoluem".

Durma-se com um barulho destes.

Com manifestações e mais de 730 dias de barricadas, povoado argentino impede construção de fábrica da Monsanto

“Chamam de progresso, mas os lucros são privados e nos territórios ficam a doença e a devastação”, diz um dos moradores; “Já nos deram golpes e balas de borracha. Não me importo. Vou deixar a vida pelos meus filhos”, afirma outro.

Do Opera Mundi

Formado por donas de casa, funcionários públicos, empregados do setor privado, jovens e adultos, o movimento Assembleia das Malvinas Argentinas – cidade da província de Córdoba – completou em setembro mais de 730 dias combatendo a Monsanto, a maior corporação agrícola mundial. “Chamam de progresso, mas os lucros são privados e nos territórios ficam a doença e a devastação”, diz um dos moradores.

A região é cercada por plantações de transgênicos e fumigações. O impacto na vida das pessoas é sentido pela contaminação vivenciada por familiares, vizinhos e no próprio corpo. Aos poucos, os moradores da região começaram a se informar sobre a empresa e o impacto que a fábrica de milho transgênico teria naquela sociedade. Então decidiram, em 19 de setembro de 2013, realizar o bloqueio da entrada da fábrica e, mesmo com a repressão da polícia e do governo local, dois anos depois, seguem barrando os objetivos da corporação.

O fato, estranhado pela própria empresa que “reconheceu nunca ter passado por semelhante situação”, como afirma um dos moradores, é objeto de estudo para acadêmicos e é considerado um importante caso testemunhal para outros movimentos, além de mau exemplo por governos e empresas. Para a Monsanto, é uma manifestação que impede "o direito ao trabalho".

Para retratar essa experiência, o jornalista argentino Darío Aranda foi até a localidade e registrou as impressões dessas pessoas que lutam contra uma causa supostamente perdida e estão ganhando. Segue o relato:

Hoje, às 10h, horário de Brasília, o Bundestag …

Hoje, às 10h, horário de Brasília, o Bundestag - Parlamento Alemão - irá realizar uma audiência pública para debater a probição do Glifosato na União Europeia.

Ao contrário do Brasil, em que registros de agrotóxicos são eternos, na UE as permissões têm validade, e a do Glifosato se encerra esse ano. E vale lembrar que a maior parte da ração animal europeia é feita com soja e milho - transgênicos e intoxicados - brasileiros.

Uma das especialistas convidadas para dar seu parecer é a toxicologista brasileira Karen Friedrich. Sua indicação não foi à toa: além de ser um dos maiores nomes da toxicologia no Brasil, Karen foi umas coordenadoras do Dossiê Abrasco sobre Impactos dos Agrotóxicos na Saúde. Essa indicação é fruto do grande trabalho científico que vem sendo realizado no Brasil por pesquisadores ligados à Abrasco, à Fiocruz, ao INCA, entre outras entidades.

Abaixo, o link para assistir à audência, contendo os pareceres dos especialistas (em inglês).

Na Argentina, oito em cada dez, com venenos

Estudo da Universidade de La Plata encontrou agrotóxicos em verduras e cítricos. Em análise de 60 amostras de frutas e verduras foram encontrados agrotóxicos em 83% dos cítricos e cenouras, e em 78% dos pimentões, e em 70% das verduras de folhas. Os venenos detectados foram inseticidas e fungicidas.

Por Darío Aranda – Tradução: Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

Oito em cada dez verduras e frutas têm agrotóxicos. É o que afirma uma pesquisa realizada pela Universidade Nacional de La Plata (UNLP), na qual foram analisadas verduras de folha verde, cítricos e hortaliças. Em 76,6% das amostras havia ao menos um tipo de agrotóxico, e em 27,2% havia entre 3 e cinco tipos da substância. “A variedade de agrotóxicos é muito grande. E o coquetel de químicos é muito forte”, assegurou Damián Marino, coordenador do trabalho. Entre os produtos mais encontrados está o inseticidas endolsulfan, proibido na Argentina desde 2013.

Agrotóxicos. Os condimentos não declarados” é o nome do estudo realizado por cientistas do Espaço Multidisciplinar de Interação Sócio Ambiental (Emisa), da UNLP. O trabalho, realizado entre novembro de 2014 e abril de 2015, analisou 60 amostras de frutas e verduras. Separadas por categoria, 83% dos cítricos (laranjas e tangerinas) e de cenouras tinhas agrotóxicos. Também tiveram resultado positivo 78% dos pimentões e 70% das verduras de folha verde (alface e acelga).

Papa Francisco se une à batalha contra os transgênicos

Eduardo Santillán / Presidencia de la República

O Papa criticou os transgênicos por seus impactos agrários, sociais e econômicos, e fala da necessidade de um debate amplo sobre o tema.

por Emilio Godoy - Tierramérica

Eduardo Santillán / Presidencia de la República

 

MÉXICO, 10 de agosto de 2015 (IPS) – Há alguns séculos atrás, a indústria da biotecnologia poderia ter comprado uma bula para autorizar seus pecados e obter a redenção prévia. Porém, em sua ecológica encíclica Laudato si, o papa Francisco condenou os organismos geneticamente modificados (OGM) sem perdão possível.
 
Em sua primeira carta circular aos católicos desde que iniciou seu pontificado, no dia 24 de maio de 2013, o argentino Jorge Mario Bergoglio critica os OGM por seus impactos agrários, sociais e econômicos, e fala da necessidade de um debate amplo sobre o tema, e não somente desde a esfera científica.
 
Laudato si – “louvado sejas”, em italiano antigo – faz referência ao título de um cântico de Francisco de Assis que reza: “louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa Mãe Terra, a qual nos sustenta, nos governa e produz diversos frutos com coloridas flores e ervas”.
 
É a primeira encíclica na história dedicada à situação ambiental e à reflexão sobre “a casa comum” da humanidade, o planeta.
 
O documento reconhece a falta de “comprovação contundente” sobre o dano que os OGM poderiam causar aos seres humanos, mas destaca que existem “problemas importantes que não devem ser relativizados”.
 
“Em muitos lugares, após a introdução desses cultivos, se constata uma concentração de terras produtivas nas mãos de alguns poucos, devido à progressiva desaparição dos pequenos produtores, obrigados deixar a produção direta, como consequência da perda das terras exploradas”, segundo a encíclica.

Mato Grosso consome ao ano cerca de 40 litros de agrotóxicos por habitante

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O dado revelou a importância dos debates propostos no “Dossiê Abrasco: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde”, lançado recentemente no estado

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Lançamento em Rondonópolis. (Foto: Andrés Pasquis/GIAS)

“O brasileiro consome em média 5,2 litros de agrotóxicos ao ano. A situação é mais gritante no Mato Grosso, pois a fiscalização é claramente deficiente e a legislação não é respeitada. O mato-grossense chega a ingerir uma média de 40 litros por ano”, afirmou Fran Paula de Castro, educadora do programa da FASE no Mato Grosso, durante as atividades de lançamento no estado do “Dossiê Abrasco: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde”, realizadas pela Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida em Cuiabá e no município de Rondonópolis.

 

Leomar Daroncho, procurador e coordenador do Fórum Mato-Grossense de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, também participou dos eventos. Ele explicou que, nesse tema, todos são vítimas. “Por isso o lançamento do Dossiê aqui é muito importante. Não é uma luta contra alguém, mas é uma luta pelo bem de todos nós”, ressaltou. Os debates motivados pelo Dossiê ocorreram nos últimos dias 23, 24 e 25 de julho e socializaram os conhecimentos construídos de maneira coletiva pelos autores da publicação da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) junto à Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, à Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e à Expressão Popular.

 

Pelo direito a não ser diariamente envenenado

Pelo direito a não ser diariamente envenenado!!!

Matéria da Jornada de Agroecologia:

“Defender a agroecologia é defender novo modelo econômico e político”

Por Rafael Soriano

O economista membro da coordenação nacional do MST, João Pedro Stedile, esteve presente na primeira conferência da 14ª Jornada de Agroecologia, abordando o movimento do Capital na agricultura e suas consequências. Durante sua fala, Stedile avaliou que a defesa da agroecologia é, não apenas uma preocupação em salvar o meio ambiente, mas um embate econômico e político.

A necessidade de uma transição agroecológica, para o militante, advém das características nocivas do modelo do capital na agricultura, hoje conhecido como agronegócio. “É justamente nas contradições desse modelo que está nossa esperança em uma adesão crítica da sociedade como um todo para enfrentarmos a agricultura capitalista e estabelecermos novas bases de produção, fundadas na agroecologia”, sinalizou.

Entre as contradições, está a concentração de propriedade em pouco mais de cinqüenta grandes empresas multinacionais presentes na agricultura e, por isso, um grande contingente de populações afastado das riquezas ali produzidas. Por estarem nas mãos dessas empresas, as riquezas geradas nas localidades são expatriadas, não permanecem na própria região onde se produz.

“Vemos o exemplo de Irati, onde acontece a 14ª Jornada de Agroecologia, em que a produção de fumo vê a riqueza aqui gerada na região sendo levada para Londres pela Souza Cruz e aumentando a acumulação de capitais dos acionistas de lá”, relata Stedile.

Além dessas características econômicas, há sérias disfunções no meio ambiente causadas pelo modelo atual, como a contaminação por venenos e a destruição da biodiversidade.

“O caso de São Paulo é emblemático: não falta água nas torneiras da cidade por falta de chuva. Chove e alaga. O problema é causado pelo predomínio dos monocultivos do eucalipto e da cana-de-açúcar no entorno do sistema hidrográfico de Cantareira, que altera todo o ecossistema local”, alerta João Pedro Stedile. “Os venenos contaminam o ar, a água e até o leite materno, o que tem aumentado o número de casos de câncer em 500 mil por ano”, arremata.

Em sua intervenção, Stedile enumerou as principais características do capitalismo na agricultura, em tempos de domínio do capital financeiro: além da já citada concentração em pouco mais de cinquenta multinacionais, estão a transformação da agricultura num grande mercado mundial (produz-se alho na China para comer no Brasil, por exemplo), a redivisão do trabalho mundial agrícola (sob o comando daquelas mesmas cinqüenta empresas), a uniformização dos preços e a padronização dos alimentos.

“Sob o risco de efeitos incontroláveis na saúde das pessoas, a alimentação que no século passado estava baseada em mais de 300 tipos de vegetais, hoje está reduzida a apenas cinco: sorgo, trigo, milho, arroz e soja”, adverte o economista. Outra grande mudança é a forma de produção nas unidades produtivas que, tendo o lucro como norteador, está aprisionada a forma de cultivo em larga escala e sob uma matriz tecnológica específica.

A matriz introduzida pela chamada “revolução verde”, é baseada nos venenos, que eliminam a diversidade da natureza em nome dos monocultivos, das sementes transgênicas (que aprisionam o agricultor à empresa produtora de sementes e venenos específicos para cada semente) e da mecanização, fundando uma agricultura sem agricultores.

Por fim, surge uma nova classe no campo, formada por uma mescla de indivíduos capitalistas e capitais dos diferentes ramos da economia, como, inclusive, a grande mídia (observe-se que a Rede Globo é parte da Confederação Nacional da Agricultura – CNA – maior entidade do agronegócio no país). No Brasil nos últimos anos, 4 milhões de assalariados rurais migraram para favelas, “substituídos nas lavouras por venenos, transgênicos e máquinas”.

“Tudo isso dificulta nossa luta, mas a esperança militante se mantém acesa. Pois vemos do nosso lado o Papa, que publicou uma encíclica dedicada à defesa explícita da ecologia, temos a própria Natureza, que é contra as agressões e, mais recentemente o conjunto da população urbana”, analisa Stedile. “A agroecologia não é uma luta dos agricultores, mas da Humanidade”, conclui.

Agrotóxicos e transgênico podem ser barreira para exportação para Europa

por Viviane Vaz/ Le Monde Diplomatique

A RAINHA DO AGROTÓXICO E TRANSGÊNICO

A ministra de Agricultura Katia Abreu veio à Bruxelas esta semana com uma difícil missão: convencer os europeus a aumentarem as exportações brasileiras de produtos agropecuários por meio da assinatura de um acordo sanitário entre Brasil e a União Europeia (UE). Pelo twitter, a ministra se mostrou otimista com a recepção das autoridades europeias no Parlamento Europeu e na Comissão Europeia -instituições fundamentais para criação e execução das leis na UE. Os europeus, porém, também sinalizaram que não estão dispostos a abrir mão de certas regras de vigilância sanitária, sobretudo no que diz respeito ao uso de agrotóxicos e a produção de alimentos transgênicos –amplamente difundidos no Brasil.

Uma fonte do Parlamento Europeu explicou à reportagem que entre as questões que preocuparam os eurodeputados nesta terça-feira tratam sobre os organismos geneticamente modificados (OGM) e os agrotóxicos, alem da proteção à floresta amazônica. “Eles querem ter certeza que os produtos importados do Brasil não contêm transgênicos", disse a fonte. Para isso, os exportadores brasileiros terão de adotar regras que parte da bancada ruralista tenta derrubar no Brasil. A Câmara dos Deputados aprovou em abril o projeto que acaba com a exigência de afixar o símbolo de transgenia nos rótulos de produtos geneticamente modificados (OGM) destinados a consumo humano. O texto modifica a Lei 11.105/2005 que determina a obrigação da informação em todos os produtos destinados a consumo humano que contivessem ou fossem produzidos com OGM ou derivados, por exemplo, milho, soja, arroz, óleo de soja e fubá. Uma pesquisa realizada pela UE mostra que 62% dos europeus é contra o consumo e a produção de transgênicos no bloco. Na Europa, o consumidor ainda pode verificar nas etiquetas se o alimento que esta levando para casa é transgênico ou não.

Sobre o uso de agrotóxicos proibidos pela UE existentes na agricultura brasileira, a fonte do Parlamento Europeu afirmou que “o problema terá que ser resolvido de alguma forma para que o comercio seja aberto”. Em abril deste ano, o diretor da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), Paulo Petersen alertou para o fato de que 22 dos 50 princípios ativos mais empregados em agrotóxicos no Brasil estão banidos em outros países. "Estamos em uma situação de total descontrole, o Estado não cumpre o processo de fiscalização como deveria e a legislação para o uso de agrotóxicos também não é cumprida," disse. "Desde 2009 o Brasil assumiu a posição de primeiro consumidor mundial de agrotóxico. O consumo daria 5,5 quilos por brasileiro por ano", completou.

É o agronegócio quem diz: Tecnologia Bt não cumpre seu papel

Os "eminentes cientistas" insistem na tese tresloucada de que agrotóxicos e transgênicos não guardam qualquer relação. Usam o argumento de que nem todo transgênico é feito para resistir a agrotóxicos, como é o caso da tecnologia Bt, que onde a própria planta produz o agrotóxico. Pois, vejam o resultado desta "modernidade tecnológica"... (grifos nossos)

do Agrolink, 25/05 

Tecnologia, conforme os produtores de MT, demandou até cinco aplicações de inseticidas e custo elevou

MARIANNA PERES

Apesar de o clima bom ter feito toda a diferença sobre o desenvolvimento do milho safrinha, em Mato Grosso, elevando as perspectivas de produtividade e de produção, o ciclo vai deixando um peso a mais no orçamento do produtor. Quase 70% deles estão realizando elevado número de aplicações de inseticida no milho semeado com a tecnologia Bt, variedade que já embute um valor agregado maior à semente e que, em princípio, deveria dispensar esse tipo de tratamento químico, ainda mais de maneira intensiva.

A constatação feita no Circuito Tecnológico – Etapa Milho, evento organizado pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT) – evidencia, conforme a entidade, que a tecnologia está perdendo sua eficiência e, por isso, demandando maior uso de defensivos para o combate às pragas. O milho é a principal cultura de segunda safra utilizada no Estado.

O resultado foi obtido com a aplicação de questionários quantitativos, além da coleta de amostras de talhões de milho em todo o Estado no mês de abril.

“Esse é um dado que nos serve de alerta. Estão aplicando altas doses de inseticida em um milho que não precisaria disso, e se isso ocorre, é porque a tecnologia de combate já não está mais tão eficiente”, ressaltou Cid Sanches, gerente de planejamento da Aprosoja.

Além da aplicação nas lavouras, os dados obtidos no Circuito Tecnológico – Etapa Milho - revelam ainda que, os agricultores, também estão utilizando o inseticida no tratamento de sementes, totalizando 88% das propriedades que utilizam esse método.