Do Brasil de Fato
O Brasil vai importar 4 milhões de toneladas de milho em 2021, a maior importação de toda a sua história, embora seja um grande produtor do cereal. Por que isto está acontecendo? “Não faz o menor sentido estar importando”, critica Sílvio Porto, ex-diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “ O que está acontecendo – diz ele – é excesso de exportação que gera a necessidade de reimportação”.
Porto nota que o país arca com um custo social e ambiental altíssimo para produzir o milho e, apesar disso, não tem uma estratégia para atender às suas próprias demandas do cereal. “Tem aí um grande problema de inação por parte do governo, que não atua”, acentua. Para ele, deixa-se simplesmente tudo ao bel prazer das oscilações do mercado, e o governo se comporta como “mero espectador”.
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Até então, a maior importação dos últimos 40 anos havia ocorrido em 2016, quando o país comprou 3,3 milhões de toneladas. “O Brasil sempre importou um milhão, 1,5 milhão, mais ou menos nessa faixa”, recorda.
“Como as coisas acontecem desse jeito, há enormes reflexos internos, sobretudo em relação ao preço dos alimentos”, adverte. Gera-se uma desarrumação da economia interna com repercussões na insegurança alimentar e nutricional de uma parcela muito expressiva da população brasileira.
A mesma opinião é de Juliano Ferreira de Sá, presidente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável/RS (Consea-RS). Ele acrescenta o fato do agravamento da situação com a diminuição do plantio no Rio Grande do Sul.
“Temos percebido nos últimos anos uma considerável redução de áreas de produção de alimentos”, diz. Afirma que o milho, como alimento humano ou insumo na alimentação de animais (aves e suínos) na agricultura familiar, tem sofrido uma diminuição de território.
Ao lado da redução do espaço de cultivo, há também a questão da estiagem, o que agrava o panorama. “A gente tem tido aí, nos últimos períodos, recorde de safra, recorde de lucro, recorde na exportação de grãos. Ao mesmo tempo que a gente tem tido o aumento da fome, o aumento da insegurança alimentar e nutricional”, repara.
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Segundo dados da rede brasileira de pesquisadores em soberania e segurança alimentar e nutricional, a Rede PENSSAN, em dezembro de 2020, o país já tinha 19,1 milhões de brasileiros e brasileiras, quase 10% da população, passando fome.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Ayrton Centeno