4 de fevereiro: Dia Mundial de Luta Contra o Câncer

Instituída na Cúpula Mundial Contra o Câncer para o Novo Milênio, em Paris, a data busca alertar e unir a comunidade mundial na defesa da saúde e da prevenção e tratamento do câncer. 

De acordo com a União Internacional para Controle do Câncer (UICC), a doença é a segunda principal causa de morte em todo mundo, vitimando cerca de 9,6 milhões de pessoas todos os anos, a maior parte delas (70%) em países de baixa e média renda. Só no Brasil, o INCA – Instituto Nacional do Câncer estima que a doença vitimou 224.712 pessoas em 2018 e 626.030 novos casos foram registrados só em 2020.

Resultado da exposição a vários fatores externos e internos, estima-se que cerca de um terço dos casos de câncer pode ser evitado com a redução de riscos comportamentais e alimentares. A exposição aos agrotóxicos é uma das condições que têm sido associadas ao desenvolvimento do câncer, por sua possível atuação como iniciadores (substâncias capazes de alterar o DNA de uma célula, que pode causar o tumor futuramente) e/ou promotores tumorais (substâncias que estimulam a célula alterada a se dividir). 

Diversas pesquisas têm relacionado a elevação de doenças em territórios com intenso uso de agrotóxicos e o INCA alerta que, embora agricultoras/es e trabalhadoras/es das indústrias de agrotóxicos sejam afetados diretamente pelos efeitos dos agrotóxicos durante a manipulação e aplicação, toda a população está vulnerável a exposições múltiplas a estes venenos agrícolas, com o consumo de alimentos e outras fontes de recursos vitais como solos,  águas,  leite materno e ar contaminados. 

Mesmo que alguns agrotóxicos sejam classificados como substâncias de média ou baixa toxicidade, os seus efeitos crônicos podem se manifestar meses, anos ou até décadas após a exposição, em doenças como cânceres, malformações congênitas, distúrbios endócrinos, neurológicos e mentais (Abrasco, 2015). 

Além dos cânceres de mama, outros tumores que comprometem a produção dos componentes do sangue (chamados hematológicos, como leucemias, linfoma não-Hodgkin e doença de Hodgkin), tumores do sistema nervoso, câncer na infância, pâncreas, câncer renal, tumores associados a um perfil hormonal (mama, endométrio, ovário, testículo, próstata e tireóide), têm sido associados como potencialmente decorrentes do uso de agrotóxicos.

Enquanto assistimos gigantes como a Bayer serem obrigadas a pagar indenizações milionárias ao redor do mundo pelos danos à saúde que provocam – só nos Estados Unidos são mais de 11 mil casos judicializados envolvendo o Roundup -, no Brasil presenciamos um cenário de liberação desenfreado de agrotóxicos, tentativas de afrouxamentos de leis e rebaixamento da toxicidade de substâncias, além de isenções fiscais que funcionam como verdadeiros estímulos ao uso de venenos. 

Após a avaliação do potencial carcinogênico de cinco ingredientes ativos de agrotóxicos, a Agência  Internacional  de  Pesquisa  em Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial de Saúde, classificou  o  herbicida  glifosato  e  os inseticidas malationa e diazinona como prováveis agentes carcinogênicos para humanos (Grupo   2A)   e   os   inseticidas   tetraclorvinfós   e   parationa   como possíveis agentes carcinogênicos para humanos (Grupo 2B). Contraditoriamente, a malationa, a diazinona e o glifosato   seguem   autorizados   e   amplamente   usados   no   Brasil. A falta de evidências científicas necessárias para classificar como carcinogênica uma substância não significa ausência de risco!

Soja, milho e cana responderam por 82% de todo o volume de agrotóxicos utilizados no país no ano de 2015, indicando uma tendência de aumento do emprego nestas culturas, de acordo com estudo desenvolvido pela UFMT. A pergunta que fica é: “o lucro de poucas empresas e empresários vale o custo do adoecimento da população e do meio ambiente?”. 

Saiba mais sobre o assunto:

Exposição aos agrotóxicos e câncer ambiental: https://portal.fiocruz.br/sites/portal.fiocruz.br/files/documentos/cap_04_veneno_ou_remedio.pdf

Distribuição espacial do uso de agrotóxicos no Brasil: uma ferramenta para a Vigilância em Saúde: https://www.scielo.br/pdf/csc/v22n10/1413-8123-csc-22-10-3281.pdf

Posicionamento do INCA sobre agrotóxicos: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//posicionamento-do-inca-sobre-os-agrotoxicos-06-abr-15.pdf, https://www.inca.gov.br/exposicao-no-trabalho-e-no-ambiente/agrotoxicos

Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde: https://www.abrasco.org.br/dossieagrotoxicos/wp-content/uploads/2013/10/DossieAbrasco_2015_web.pdf

O que é o câncer? https://www.worldcancerday.org/pt-br/o-que-e-o-cancer

Bayer é condenada a pagar indenização de US$ 80 milhões por glifosato: https://www.dw.com/pt-br/bayer-é-condenada-a-pagar-indenização-de-us-80-milhões-por-glifosato/a-48095874

Morbimortalidade por câncer infantojuvenil associada ao uso agrícola de agrotóxicos no Estado de Mato Grosso, Brasil: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-462X2013000100003&script=sci_arttext&tlng=pt

Tendências de agravos crônicos à saúde associados a agrotóxicos em região de fruticultura no Ceará, Brasil: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-790X2013000300763&lng=en&tlng=en

Existe uma associação entre mortalidade por câncer e uso de agrotóxicos? Uma contribuição ao debate: https://www.scielosp.org/article/ssm/content/raw/?resource_ssm_path=/media/assets/csc/v15n1/a33v15n1.pdf

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *