A Portaria no 201, de 24 de junho de 2020, prevê a implementação do plano de supressão da “praga” e a adoção de medidas emergenciais, em razão de um nuvem de gafanhotos (Schistocerca cancellata) vinda da Argentina em direção ao Sul do país, o que ensejou a declaração de “estado de emergência fitossanitária” no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Esta emergência fitossanitária declarada pelo MAPA indica ausência de
coordenação entre os órgãos responsáveis, pelos países afetados. A utilização desmedida de agrotóxicos, nos países com grandes áreas para monocultivo de soja, gera alterações ecológicas que determinam este tipo de crise, e que não serão solucionadas pela aplicação aérea de venenos, sobre as nuvens de gafanhoto.
Exemplificando: uma fêmea coloca 200 ovos, destes só 4 ou 5 gafanhotos atingem a idade adulta. Os demais são consumidos por pássaros, ratos, aranhas, lagartos, etc. Eles alimentam a rede de biodiversidade. Com o uso dos venenos e a uniformização do território, pelo avanço das monoculturas, os predadores naturais dos gafanhotos desaparecem. A população cresce em poucas gerações. E quando alcança níveis insustentáveis, para o ambiente onde estão, determinadas espécies de gafanhotos alteram o comportamento individual e passam a agir em coletivo, como um
indivíduo gigante. Migram em bando, em busca de outras áreas, onde pousam, limpam todo o verde e, eventualmente, deixam ovos, que eclodirão no próximo verão. Quando estão no ar, não formam uma massa compacta, mas sim uma espécie de rede. E podem voar até a 200, 300 metros de altura, o que impede o uso de aeronaves com inseticidas. Mas. com certeza, voam usando o vento como apoio, fator adicional de dificuldade para pulverização aérea, pois isso é inadequado com ventos superiores a 10Km/h. O veneno aplicado de avião sobre eles, em qualquer caso, sempre atingirá, em grande parte, tudo que está abaixo. Em parte, também
será carregado pela deriva, atingindo tudo que está ao lado. Os gafanhotos atingidos cairão envenenados e envenenarão os organismos que os consumirem, reduzindo a capacidade de controle natural daquele ambiente. Assim, na próxima revoada, que seguramente ocorrerá, provavelmente dentro alguns verões secos, os danos serão maiores. Com o frio, eles param. Com o vento, eles mudam de direção. Com a chuva, eles pousam e, no chão, podem ser coletados.
Portanto, há de se ter métodos para estressar estas nuvens de gafanhotos, fazendo com que pousem, e também mecanismos para coleta no chão. Os gafanhotos são ricos em proteínas. Sem os venenos, podem ser usados para alimentar animais e mesmo humanos, como é hábito popular em várias regiões do planeta. Ou seja, a pulverização aérea de agrotóxicos não é uma solução, pois reproduz o problema e não elimina suas causas. Foi o que ocorreu na Argentina, que usou aviões com agrotóxicos para combater a nuvem que chegou ao país e conseguiu reduzir a quantidade de insetos, mas foi insuficiente para destruir completamente a nuvem de gafanhotos. A melhor solução seria uma articulação entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, para controle do problema na origem: redução das áreas de monocultivo ecocida, adoção de políticas, práticas e mecanismos de base agroecológica.
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