A contaminação de abelhas pelo uso de agrotóxicos no Sul e Sudoeste de Minas Gerais mobiliza diálogo entre apicultores, pesquisadores e integrantes do movimento agroecológico

Por Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas e Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

Reprodução.

Apicultores, pesquisadores e integrantes do movimento agroecológico se reuniram, virtualmente, na última sexta-feira, dia 03 de março de 2023, para uma prosa sobre a contaminação de abelhas pelo uso de agrotóxicos na região.

A prosa foi organizada pelo Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas após a veiculação de notícias sobre o caso do apicultor e meliponicultor Marcelo Francisco Ribeiro, conhecido como Batata, de Jacuí/MG, que, após perceber um aumento na morte de abelhas, enviou amostras para análise por um laboratório no interior de São Paulo.

O resultado do exame apontou que as abelhas tiveram paralisia da função neurotransmissora e o sistema nervoso central afetado pela presença elevada de agrotóxicos. Entre os agrotóxicos encontrados na análise, estão Glifosato, Clorpirifós, Permetrina, Propanil e Trifluralina.

Além de Marcelo Batata, participaram da prosa, Leandro Severo, apicultor de Andrelândia/MG, Rodolfo Itaymberê, integrante do Coletivo C.O.L.M.E.I.A, Jaqueline Silva, bióloga e doutoranda em Biologia Celular, Molecular e Microbiologia pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), e, Uschi Silva, geógrafa e integrante da Secretaria Operativa do Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas.

O aumento de mortes de abelhas na região

O caso do apicultor Marcelo Batata ganhou notoriedade na imprensa pela realização da análise e comprovação da causa das mortes, mas o relato de outros criadores aponta a ocorrência de vários casos e de um aumento no número de mortes de abelhas nos últimos anos na região.

Leandro Severo conta que o grupo de apicultores do qual é integrante também foi afetado por uma grande perda de colmeias no ano de 2021. “Mais de 200 colmeias em uma determinada região, onde, anteriormente, não tinha essa morte expressiva”.

A fala da bióloga Jaqueline Silva demonstra o alcance do impacto dessas mortes para o ecossistema ao salientar a importância das abelhas para a polinização e para a produção de sementes, de biocombustíveis e de alimentos para a vida selvagem.

Além dos danos ambientais, apicultores sofrem com o impacto econômico pela perda dos recursos investidos na montagem das caixas e no cuidado das colmeias. “Você perder todo aquele investimento, tudo que você planejou, descontrola bastante. Então tinha que ter medidas rápidas, medidas urgentes para fugir desse problema da mortandade de abelhas”, lamenta Leandro.

A importância da análise e da denúncia

Rodolfo Itaymberê e Marcelo Batata ressaltam a importância da realização da análise para determinar a causa da morte das abelhas e, caso seja comprovada a contaminação por agrotóxicos, a elaboração da denúncia, para que órgãos públicos como as secretarias de agricultura, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e o Ministério Público possam agir.

A pesquisadora Jaqueline Silva relata como a denúncia pode impactar também na reavaliação ambiental, na alteração das regras de uso e na restrição da comercialização de agrotóxicos, sendo o Fipronil um dos ingredientes ativos que estão em processo de reavaliação ambiental.

Porém, um dos entraves encontrados pelos apicultores para a realização da análise e da denúncia, é o custeio dos exames, principalmente, pela soma desse valor ao prejuízo financeiro enfrentado com a perda das colmeias. Os participantes da prosa indicaram, como uma possibilidade para lidar com esse desafio, a busca de parcerias com laboratórios de universidades públicas.

Outro desafio apontado por Rodolfo Itaymberê é a falta de registros das colmeias pelos apicultores e de um protocolo com informações sobre como agir no caso de morte de abelhas, o que fazer com as caixas, como realizar a análise e a denúncia.

Em relação ao processo de elaboração da denúncia, Uschi Silva recomendou o guia elaborado pela Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida sobre como denunciar as intoxicações e contaminações causadas por agrotóxicos. O documento está disponível no link: https://contraosagrotoxicos.org/como-denunciar/

As espécies de abelha e os métodos de avaliação de riscos

Os casos de contaminação de abelhas também demonstram desafios em relação aos métodos de avaliação dos riscos de agrotóxicos realizados no Brasil, que, de acordo com Jaqueline Silva, são baseados em dados biológicos da espécie Apis Mellifera, cujo funcionamento biológico é distinto das abelhas nativas.

Jaqueline observa que a ausência de informações biológicas de abelhas nativas é um dos desafios encontrados pelos pesquisadores nesse campo de estudos, porém relata que foi publicado recentemente um artigo com a descrição da biologia de uma abelha sem ferrão e que métodos padronizados para essas espécies estão, atualmente, em processo de criação junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Como assistir essa e outras prosas

O vídeo da primeira edição do Polo em Prosa, realizada a partir do tema “A contaminação pelo uso de agrotóxicos no Sul e Sudoeste de Minas” está disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=CfGAOU532y0.

O Polo em Prosa é uma série de encontros virtuais, realizados a cada 3 semanas, para prosear sobre questões relevantes para a agroecologia no território do Sul e Sudoeste de Minas Gerais.

A série é uma proposição do Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas, espaço de articulação política e construção coletiva da agroecologia, integrado por movimentos sociais, sindicatos rurais, instituições de ensino, associações da agricultura familiar, cooperativas e organizações não governamentais, e instituído pela Lei nº 23.939 de 23/09/2021, de autoria da deputada estadual Beatriz Cerqueira.

Para receber notificações sobre as próximas edições do Polo em Prosa é possível se inscrever no canal no Youtube (@poloagroecologicodosulesud1050) ou acompanhar as publicações na página do Instagram (@passomg) do Polo Agroecológico do Sul e Sudoeste de Minas.

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