Comissão adia novamente a análise do pedido de liberação comercial do trigo transgênico

Por Daniel Giovanaz
Do Brasil de Fato

Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão colegiado de assessoramento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), adiou mais uma vez a análise do pedido de liberação comercial do trigo transgênico protocolado pela empresa de sementes Tropical Melhoramento & Genética (TMG) em março de 2019.

O tema estava previsto na pauta da 243ª Reunião Ordinária da CTNBio, realizada nesta quinta-feira (5).

“O processo não foi debatido nesta reunião porque estamos aguardando resposta da empresa solicitante a uma diligência feita pela CTNBio”, explicou Paulo Barroso, presidente da comissão, em transmissão ao vivo no canal do MCTI no Youtube, às 17h35.

Barroso não especificou quais informações foram requeridas à empresa. O presidente da CTNBio também não informou o prazo dado aos argentinos, nem a data da próxima reunião.

Em 10 de junho, a decisão da CTNBio sobre o tema foi adiada sob a mesma justificativa, sem maiores detalhes.


Pauta da reunião da CTNBio desta quinta-feira (5) / Reprodução

O pedido da TMG especifica que o trigo seria utilizado “para aumento de produtividade em situações e ambientes de baixa disponibilidade hídrica e resistente ao glufosinato, para uso exclusivo em alimentos, rações ou produtos derivados ou processados.”

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) classifica o glufosinato de amônio como 15 vezes mais tóxico do que o glifosato, alvo de ações na Justiça dos Estados Unidos por causar câncer.

A modificação genética no trigo é realizada exatamente para tornar a planta resistente ao produto, proibido na Europa e na maioria dos países desenvolvidos.

A liberação do trigo transgênico foi aprovada pela subcomissão setorial das áreas humana e animal da CTNBio. Está pendente a decisão da subcomissão setorial permanente das áreas vegetal e ambiental.

A variedade do cereal geneticamente modificado avaliada pela comissão é a HB4, da empresa argentina Bioceres. A decisão da CTNBio terá impactos diretos na Argentina

O aval do Brasil é condicionante para a liberação da comercialização no país vizinho, autorizada no ano passado. O Brasil é responsável pela compra de 50% do trigo exportado pelos argentinos.

Mobilizações

Desde que o pedido chegou à CTNBio, entidades de pesquisa ambiental e de saúde brasileiras e internacionais se mobilizam para denunciar as possíveis consequências do consumo humano do trigo transgênico e dos agrotóxicos utilizados em seu cultivo.

Em 9 de junho, organizações que compõem a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida e o Grupo de Trabalho (GT) Biodiversidade da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) enviaram ofício ao Ministério Público Federal (MPF) e à CTNBio contra a liberação. As entidades denunciaram falta de transparência no debate sobre o tema.

Uma vez aprovado, o trigo transgênico é considerado um caminho sem volta – assim como já aconteceu com o milho, a soja e o algodão. Outro aspecto considerado grave é o risco de contaminação de outras sementes por meio da polinização cruzada.

Edição: Leandro Melito

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