Este dia 21 de abril de 2022 marca 12 anos de um crime bárbaro, símbolo da crueldade e a violência do agronegócio e toda a sua cadeia. Na área rural do município cearense Limoeiro do Norte, o agricultor José Maria Filho foi assassinado com 25 tiros pelas costas, à queima-roupa, próximo de sua casa.
A cidade em que o conhecido Zé Maria do Tomé vivia tem pouco mais de 50 mil habitantes e fica na Chapada do Apodi, berço do agronegócio no Ceará, localizado na divisa com o Rio Grande do Norte. A característica da região é de expansão da grilagem de terra, da ampliação de monocultivos da fruticultura e do envenenamento causado pelo uso de agrotóxicos, especialmente pela pulverização aérea.
O agricultor enfrentou os efeitos do veneno de perto. Sua filha teve problemas de saúde, animais criados pela família morreram e a água da comunidade foi contaminada. Zé Maria se tornou militante e ativista ambiental, figura central na mobilização de comunidades e movimentos sociais da Chapada, com mais força a partir de 2009.
Um grande fruto desta luta veio no final daquele mesmo ano, com a aprovação unânime pela Câmara Municipal de Limoeiro de uma lei contra a pulverização aérea. Foi o primeiro município brasileiro a criar uma legislação específica sobre o tema. A reação violenta do agronegócio se concretizou seis meses depois, no dia 21 de abril, com o assassinato de Zé Maria. Uma semana depois do crime, a lei municipal foi revogada.
O legado da luta de Zé Maria do Tomé permanece desde então vivo nos movimentos populares e organizações, que mantêm vivos os seus ideais. Entre os principais frutos desta mobilização permanente chegou em 2019, com a conquista da Lei Zé Maria do Tomé, que proíbe a pulverização aérea de agrotóxicos no estado do Ceará. A legislação foi aprovada com unanimidade pela Assembleia Legislativa do Estado, e tornou o Ceará o primeiro estado da América Latina com a proibição da pulverização aérea de agrotóxicos.
A reação do agronegócio veio em seguida, com o questionamento da lei feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) no Supremo Tribunal Federal (STF). Os ministros Cármen Lúcia e Edson Fachin já deram votos favoráveis à manutenção da lei estadual. A votação está parada, por pedido de vista feito pelo ministro Gilmar Mendes.
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