Estudantes e agricultores partilham experiências no I Curso Regional de Formação em Agroecologia

Incentivar a formação prática, teórica, política, técnica e científica em Agroecologia, difundindo os conhecimentos produzidos e aproximando estudantes, agricultores e militantes das universidades e organizações populares do Nordeste é o objetivo do 1° Curso Regional de Formação em Agroecologia (CRFA), que segue até esta terça-feira (19), no Centro de Formação Dom José Rodrigues do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa), em Juazeiro (BA).

Organizado por entidades ligadas à luta pela terra no Brasil, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (Feab), Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal (Abeef) e Entidade Nacional dos Estudantes de Biologia (Enebio), o 1º CRFA tem proporcionado aos participantes a discussão de variados temas. Das contradições do agronegócio ao protagonismo das mulheres na construção da Agroecologia; das tecnologias de convivência com o semiárido à produção de material de acúmulo para as universidades e organizações, contemplando vivências em comunidades agrícolas da região.

Joelton Belau, da coordenação nacional da Feab, criticou a formação acadêmica na área agrícola, que, segundo ele, se baseia na utilização de agrotóxicos e produção de monocultivos em grandes extensões territoriais, gerando impactos sociais, econômicos e ambientais. “O Curso é uma oportunidade de vivenciar um modelo de produção agrícola diferente do que vem sendo ensinado nas universidades de Agronomia”, ressaltou. Cleber Folgado, militante do MPA e integrante da coordenação nacional da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, destacou a importância de aprender coletivamente. “A partir das diversas vivências das pessoas que estão aqui, podemos consolidar a agroecologia como um instrumento histórico que o conjunto da sociedade precisa se apropriar para avançar na produção de alimentos saudáveis”. 

No espaço de troca de experiências agroecológicas, cursistas de todo o Nordeste conheceram os desafios enfrentados pela comunidade de Fundo de Pasto de Areia Grande, no município de Casa Nova (BA). Zacarias Rocha, da Articulação Regional de Fundo de Pasto, recordou o histórico de luta da comunidade para impedir que empresas do setor de agrocombustíveis grilassem o território tradicional. Para ele, a agroecologia é um jeito de viver que agrega às tradições populares a boa relação com as plantas, pessoas e animais.

Marilza Índia, do Instituto de Permacultura em Terras Secas (Ipeterras), sediado em Irecê (BA), concorda com Zacarias. Em sua apresentação das atividades desenvolvidas no Ipeterras, se destacaram a adoção de técnicas de manejo adequadas, como a utilização de caldas, estratos vegetais e composto orgânico, e o investimento no plantio de mudas nativas através dos Sistemas Agroflorestais (SAF’s). “Intercambiar informações é um ponto chave, afinal, com a troca de experiências a gente reflete sobre as soluções aos desafios enfrentados por cada grupo”, ressalvou.

Um dos grupos que contribuíram na organização do evento foi o Grupo de Agroecologia Umbuzeiro (GAU), surgido em 2005 por iniciativa de estudantes do curso de Agronomia da Universidade do Estado da Bahia, em Juazeiro. Em oito anos de atuação, o GAU tem sido um exemplo de construção de ações articuladas para o bioma caatinga a partir dos intercâmbios com organizações da sociedade civil que promovem experiências exitosas de Agroecologia e educação contextualizada no semiárido brasileiro. 

A expectativa é que, após a realização do curso, o GAU contribua na implantação das unidades de Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS) em comunidades atingidas por barragens, tecendo as chamas do fogaréu da Agroecologia e revelando as potencialidades de um processo pedagógico pautado numa educação para a convivência com o semiárido. Parafraseando Eduardo Galeano, a ideia é alumiar a caatinga com tamanha intensidade que seja impossível olhar as práticas agroecológicas sem pestanejar. E quem chegar perto pega fogo.

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