Seminário discute impactos dos agrotóxicos no estado de São Paulo

Encontro define agenda de lutas no terceiro estado que mais consome agrotóxicos no país

 

Por Nadine Nascimento

Na semana de aprovação do Pacote do Veneno em comissão especial da Câmara dos Deputados, a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) conduziu o primeiro Seminário de Planejamento Estadual para debater estratégias de combate aos agrotóxicos no estado de São Paulo.

Realizado no Sindicato dos Químicos de São Paulo, na sexta-feira (29), o encontro reuniu camponeses, cozinheiros, pesquisadores e ambientalistas de várias regiões do estado, com representantes das cidades de Campinas, Ribeirão Preto, Marília, Pontal, Promissão e da capital.

O objetivo era compreender a centralidade do estado na sustentação do modelo do agronegócio, bem como aprofundar o estudo, levantamento de dados e diagnósticos das contradições existentes em São Paulo; além disso, organizar as regiões de ação, identificar as referências para consolidação dos comitês regionais da Campanha e propor uma agenda de lutas. 

A professora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), Larissa Bombardi apresentou seu atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a UE. Segundo o levantamento, São Paulo utilizou 110 mil toneladas de agrotóxicos em média por ano, entre 2012 e 2014, configurando-se como o terceiro maior consumidor no Brasil, atrás apenas do Mato Grosso e do Paraná. As principais culturas são cana, milho e soja. 

“Neste modelo, a agricultura perde o objetivo de produzir alimentos e o potencial para nutrição humana, para a produção de agroenergia e commodities – mercadorias que podem ser vendidas na bolsa, destituídas de seu valor de uso”, define Bombardi. 

De acordo com o Atlas, cerca de 70% do estado recebe veneno por pulverização aérea nas lavouras, oferecendo riscos de contaminação da água. São Paulo registrou 2055 intoxicações agudas por agrotóxicos entre 2007 e 2014.

Para Marcelo Novaes, ex- coordenador do Fórum Paulista de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e Transgênicos e defensor público do estado, os agrotóxicos representam ainda um rombo para os cofres públicos por conta das desonerações fiscais.

“Se você quiser saber quem manda no país, você analisa a legislação tributária. Nosso país exportou 96 bilhões de dólares de commodities agrícolas que utilizam 80% de todo o agrotóxico que polui água, meio ambiente, usa pulverização aérea, e pagou de imposto de exportação de R$ 38 mil. A participação do agronegócio na composição de receitas públicas não passa de 0.3% do total de receitas. Isso demonstra claramente quem exerce o poder”, aponta Novaes. 

Para Kelli Malfort, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), “o rastro de destruição desse modelo é sintomático e só aumenta”. Em sua opinião, a resistência só será possível quando houver ampla sensibilização sobre os impactos da intensa utilização de venenos. “A luta contra os agrotóxicos nos coloca numa fileira de luta pela paz. Parte de nossas tarefas é despertar a vontade de viver e viver bem”.

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