“Ser indígena no século XXI é revolucionário”, diz Kayapó

Jovem indígena afirma ser alvo de discriminação cotidianamente: “minha vida é quebrar preconceitos”

por Nadine Nascimento, com fotografia de Dagmar Talga

“O território para nós, indígenas, simboliza a vida. Se a gente não manter uma relação boa com a natureza, nós, Kayapó, não vamos existir. Essa relação de homem com a natureza é muito forte, somos um só. Tudo o que a gente precisa a terra dá, então, a terra significa a nossa vida”, declara Matsipaya Waura Txucarramãe, indígena Kayapó do Parque do Xingu.

Com a camiseta da SOS Amazônia, ONG que têm como missão a conservação da biodiversidade e o crescimento da consciência ambiental em relação à floresta, Matsi (como é conhecido) observa as mudanças climáticas da região causadas pela exploração do agronegócio. “Alguns passarinhos estão sumindo e a nossa relação com o rio está um pouco diferente, o rio Xingu está secando mais a cada dia, as chuvas são menos frequentes também. Por conta dessas mudanças climáticas, a gente já não consegue saber a data certa de colheita daqueles alimentos que estamos acostumados”.

Aos 24 anos (prestes a completar 25 no próximo dia 10 de julho), Matsi é filho de pai Kayapó e mãe Waujá, tem 11 irmãos e vive no território Kapo Jarina, onde vivem cerca de 500 pessoas, no baixo Xingu. “Meu sobrenome é Waura porque uma tribo vizinha não sabia dizer Waujá direito e ficamos conhecidos assim”, ri.

De cabelo comprido com mexas mais claras, o jovem revela as influências dos “brancos” sobre a cultura de seu povo. “Quando alguém sai para fora da comunidade para poder estudar têm um forte choque de cultura. Quem sai, quando volta traz a cultura do branco como a evangelização, o que começa a mudar um pouquinho nossa tradição”, acredita.

Caçadores, pescadores e coletores, os Kayapó, vivem de riquezas naturais e são conhecidos pela variada produção artesanal. Porém, o jovem indígena afirma ser alvo de discriminação cotidianamente e sobre isso é categórico: “ser indígena hoje nesse Brasil é uma piada!” Segundo ele é difícil compreender a total falta de conhecimento sobre seu povo, “não moramos aqui há pouco tempo ou invadimos esse território. Estamos aqui desde sempre!”

Para o indígena a resistência é diária. “Minha vida é quebrar preconceitos. Só o fato de eu vencer a discriminação que a sociedade me impõe, é um ato de revolução. Ser indígena em pleno século XXI é ser revolucionário!”

Matsi participa do curso Agrotóxicos e Saúde: Subsídios Para a Vigilância Popular, da região Centro-Oeste, que acontece em Várzea Grande, no Mato Grosso, entre os dias 2 a 11 de julho. O curso é fruto de uma parceria entre a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida e a Fiocruz.

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