Mais transgênico = mais agrotóxicos

Começamos o ano com a Resolução Normativa no 24 da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio que dispõe sobre a liberação comercial e o monitoramento de OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) e seus derivados. O texto foi aprovado em dezembro de 2019, mas a norma foi publicada em janeiro de 2020, facilitando a liberação desses produtos modificados, uma vez que deixa a cargo das próprias empresas que pretendem comercializar o transgênico encarregada de testar os possíveis riscos à saúde e ao meio ambiente. O que nos faz lembrar do ditado “deixar a raposa cuidando do galinheiro”.

No meu Pão Não: a CTNBio convocou para 22 de outubro uma audiência pública para discutir a liberação de trigo transgênico para o consumo humano e eventual cultivo deste tipo de alimento. O produto foi geneticamente modificado para ser resistente a um agrotóxico já proibido na Europa e em outros países. Se aprovada, a medida afetará a alimentação de todos os brasileiros.

A audiência foi marcada logo após a Argentina, um dos maiores exportadores de farinha de trigo para o Brasil, aprovar o plantio de uma variedade de trigo transgênico. No entanto, o plantio deste trigo na Argentina só vai acontecer se o Brasil aceitar a importação desse alimento. Representantes da sociedade civil, acadêmicos e pesquisadores se posicionaram contrários à medida, apontando a falta de evidências que comprovem a ausência de riscos à saúde da população, e os impactos ambientais causados pelos alimentos transgênicos.

O trigo transgênico é resistente ao glufosinato de amônio, um agrotóxico
classificado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como potencialmente cancerígeno. Se houver a liberação, o trigo pode ter resíduos desse veneno tóxico que serão incorporados às farinhas e seus derivados. A planta modificada também carrega genes de resistência a antibióticos, que com o tempo podem tornar ineficazes certos medicamentos nas pessoas que ingerirem derivados desse trigo.

Não há fundamento científico para avaliar a segurança de um OGM. Portanto, nada garante que o pão que comemos será igual em suas características e no impacto em nosso corpo de um pão feito com trigo convencional.

O trigo transgênico já foi rejeitado quando, na América do Norte, a Monsanto retirou seu trigo resistente ao glifosato em 2004, após a recusa feita por vários setores ligados à comercialização. Na Argentina, um grupo de organizações da cadeia do trigo também expressou “o prejuízo que ocorreria ao mercado de trigo argentino seria irreparável e irreversível, pois a contaminação se espalhará e a segmentação é inviável”. E a indústria brasileira de moagem acaba de manifestar o mesmo afirmando, em levantamento interno, que 85% não são favoráveis ao uso do trigo transgênico e 90% se declararam dispostos a suspender as compras do trigo
argentino.

Desde que foi criada em 2005, o histórico da CTNBio é de aprovar todos os pedidos de liberação de OGM, mas há uma articulação de entidades e movimentos, como a Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, Movimento Ciência Cidadã, Naturaleza de Derechos, com manifestos e abaixo-assinados, para mobilizar a população a pressionar para que sejam consideradas as evidências científicas de riscos à saúde e ao meio ambiente.

SAIBA MAIS :

13 Razões para dizer não ao trigo geneticamente modificado
Manifesto de entidades contra o trigo transgênico
Trigo transgênico no nosso pão não – abaixo assinado