Tag minas gerais

Goiás realiza seminário nacional sobre agrotóxicos e direitos humanos

Entre os dias 25 a 28 de junho acontece na cidade de Goiás o I SEMINÁRIO NACIONAL: AGROTÓXICOS, IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS E DIREITOS HUMANOS e o III Seminário Goiano da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. O evento ocorre na Universidade Estadual de Goiás/Campus de Goiás.

Confira a programação:

26/06/2014 (Quinta-Feira)
9:00 às 17:00 horas: Espaços de Diálogo (ED)
ED 1: Agronegócio e Agrotóxicos: entre o Marco Legal e os Direitos Humanos
ED 2: Agrotóxicos e Impactos Socioambientais
ED 3: Soberania Alimentar, Saúde e Agrotóxicos
ED 4: Agroecologia, Educação do Campo e Resistência Popular aos Agrotóxicos
19:00 às 22:00 horas: Mesa Redonda – Agrotóxicos, Impactos Socioambientais e Saúde
Prof. Dr. Wanderlei Antônio Pignati (UFMT)
Prof. Dr. José Maria Gusman Ferraz (UFSCAR)
Representante do Ministério da Saúde (ANVISA)
Representante do Ministério Meio Ambiente (MMA)
Luiz Zarref (Via Campesina) (a confirmar)

Colmeias exterminadas por agrotóxicos são problema mundial

 

do IHU

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está investigando o extermínio de abelhas por intoxicação por agrotóxicos em colmeias de São Paulo e Minas Gerais. Os estudos com inseticidas do tipo neonicotinóides devem estar concluídos no primeiro semestre de 2015. Trata-se de um problema de escala mundial, presente, inclusive, em países do chamado primeiro mundo, e que traz como consequência grave ameaça aos seres vivos do planeta, inclusive o homem.

 

A reportagem é de Luciene de Assis, publicada por Mercado Ético, 11-3-2014.

 

De acordo com o coordenador geral de Avaliação e Controle de Substâncias Químicas e Produtos Perigosos do Ibama, Márcio Freitas, o órgão está reavaliando, desde 2010, vários produtos suspeitos de causar colapsos e distúrbios em colmeias paulistas e mineiras. Segundo Freitas, que integra o Comitê de Assessoramento da Iniciativa Brasileira para Conservação e Uso Sustentável dos Polinizadores, a intoxicação prejudica a comunicação entre as abelhas e isto impede que elas retornem às colmeias, levando ao extermínio dos enxames.

 

Recursos para o agronegócio superam os da agricultura familiar

por Larissa Itaboraí

Cruzando as estradas do interior de Goiás, Minas Gerais e outras regiões brasileiras, o que vemos nas fazendas que beiram as rodovias são plantações e mais plantações. Seria bom se esse elevado número de plantio fosse arroz, feijão, verduras, mandioca, hortaliças, enfim, alimentos provenientes da agricultura familiar. Só que não. O que se vê, na realidade, são hectares de soja, algodão, milho, cana e eucalipto, mas não plantados de maneira variada. Monocultura é o que mais se vê em torno do Brasil. A terra fica infértil para outro tipo de plantio e a agricultura familiar, responsável por cerca de 70% do que é consumido pelo brasileiro, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), fica em segundo plano.

Dados divulgados no final de novembro, pela presidenta Dilma Rousseff, apontam que serão disponibilizados recursos na ordem de R$ 136 bilhões para o agronegócio, enquanto a agricultura familiar receberá R$ 21 bilhões, ou seja, 15,4% do total. É um cenário discrepante e preocupante. De acordo com Fernando Carneiro, professor e chefe do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília, o setor que receberá o maior montante de investimentos destina grande parte desses recursos à agricultura para a exportação de commodities.

Campanha Contra os Agrotóxicos participa do I Encontro Nacional dos Assalariados Rurais

“É preciso debater o uso de agrotóxicos no local de trabalho.”Com essa afirmação, Hélio Neves, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo (FETAESP), reforçou a urgência de ações relacionadas ao uso de agrotóxicos por trabalhadores assalariados rurais. “Um dia ainda vamos fazer uma greve pelo fim do uso do Regent (inseticida usado na cana)”, promete.

O debate aconteceu no I Encontro Nacional dos Assalariados Rurais, realizado em Araraquara, SP, entre os dias 13 e 15 de dezembro de 2013. Estiveram presentes sindicatos do Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraíba. De acordo com Jorge dos Santos Filho, da Articulação dos Empregados Rurais do Estado de Minas Gerais (ADERE-MG), os agrotóxicos estão entre os principais problemas enfrentados hoje pelos assalariados, junto com o trabalho informal e a migração.

Pesquisadores criam biossensor para detectar pesticida

Especiais

Especiais

Princípio básico de sensor biológico para identificar pesticida altamente tóxico em água e alimentos também deu origem a um teste rápido de dengue

Por Elton Alisson

Agência FAPESP – Pesquisadores do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com colegas da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), criaram um sensor biológico (biossensor) que detecta em minutos, na água, no solo e em alimentos, a presença de um pesticida altamente tóxico que está sendo banido no Brasil, mas que ainda é usado em diversas lavouras no país: o metamidofós.

Desenvolvido no âmbito do Instituto Nacional de Eletrônica Orgânica (INEO) – um dos INCTs apoiados pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no Estado de São Paulo –, o sensor pode ser adaptado para detecção de outros tipos de pesticidas, afirmam os pesquisadores. O princípio básico do dispositivo também deu origem a um possível novo teste rápido para detecção de infecção pelo vírus da dengue.

“Escolhemos o metamidofós para ser detectado pelo sensor porque, apesar de já ter sido banido em diversos países, há indícios do uso desse pesticida, extremamente tóxico, sobretudo no Estado do Mato Grosso”, disse Nirton Cristi Silva Vieira, pós-doutorando no IFSC (com Bolsa da FAPESP) e um dos orientadores do projeto do biossensor de pesticida e do teste rápido de dengue, à Agência FAPESP.

O PODER DAS CORPORAÇÕES QUE CONTROLAM O COMÉRCIO DOS AGROTÓXICOS

por Jairo Cezar*

O tema agrotóxico vem sendo tratado nas últimas décadas, por organizações ambientais, universidades e entidades científicas, como um dos assuntos mais complexos e preocupantes quanto aos impactos provocados por seus princípios ativos na dinâmica da biótica planetária. No entanto, embora os alertas tenham sido freqüentes e permanentes acerca dos perigos resultantes do uso de tais substâncias, o que preocupa é o crescimento vertiginoso de novas marcas de herbicidas, fungicidas, inseticidas etc., liberadas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o combate às “pragas” - porém, quando ingeridas pelo ser humano através dos alimentos, produzem alterações significativas no genoma humano, contribuindo para o aumento da incidência de doenças degenerativas, dentre elas, o câncer.

Foi a partir do fim da segunda guerra mundial que grandes empresas fabricantes de armamentos e substâncias químicas usadas para enfrentar os inimigos, dentre eles o gás mostarda e o desfolhante laranja, como forma de evitar a ruína financeira, reformularam seus parques industriais, passando a fabricar tratores e implementos agrícolas em vez de tanques; agrotóxicos para uso agrícola em vez de gás mostarda para uso bélico. Começava aí a longa e paradoxal epopéia de um novo modelo de agricultura, que rapidamente se espalharia por toda a Europa e os Estados Unidos e que chegaria ao Brasil a partir do começo da década de 1960, com a denominada “Revolução Verde”. Com a política desenvolvimentista adotada pelo regime militar, cuja proposta era expandir a fronteira agrícola em direção ao Centro Oeste e Norte do Brasil, transformando o país em um dos principais celeiros agrícolas mundiais, dezenas de corporações multinacionais ligadas às commodities foram atraídas, encontrando aqui ambiente propício para multiplicar suas fortunas e também se tornando co-responsáveis pela degradação de todo um ecossistema.

País do agrotóxico

A idéia de tornar o Brasil principal fornecedor de commodities, de recursos naturais e produtos agrícolas continuou pairando no imaginário das autoridades e do agronegócio até os dias atuais. Acreditava-se que, com a ascensão de governos populares, como a que ocorreu em 2002 com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, haveria uma transformação significativa nas políticas que vinham sendo adotadas na área econômica, abrindo caminhos para um grande debate nacional a fim de discutir qual o tipo de desenvolvimento melhor se adequaria aos interesses da maioria da sociedade brasileira. Tanto não aconteceu, como foram mantidas as mesmas políticas dos governos anteriores, e com um agravante: intensificou-se a degradação do ecossistema brasileiro com as políticas de incentivo ao agronegócio, de uso de agrotóxicos, de construção de barragens na Amazônica e de desestruturação das sociedades tradicionais, indígenas e quilombolas.

Campanha Contra os Agrotóxicos divulga nota de repúdio à pulverização aérea

Após o trágico evento ocorrido no último dia 3 de maio, quando um avião pulverizou agrotóxicos em uma escola na cidade de Rio Verde (GO), a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida divulgou uma nota. Nela, a Campanha reafirma a necessidade imediata se proibir a pulverização aérea no país, em nome da saúde da população brasileira.

Veja a íntegra da nota, ou baixe aqui.

Nota de Repúdio à Pulverização Aérea

Brasília, 06 de maio de 2013

Desde abril de 2011, as mais de 60 organizações que compõem a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida reivindicam como uma de suas principais bandeiras o banimento da pulverização aérea de agrotóxicos no Brasil. Infelizmente, o trágico episódio ocorrido no último dia 3 em Rio Verde (GO), quando um avião pulverizou uma escola e intoxicou dezenas de crianças e funcionários, não foi um fato isolado e não pode ser chamado de acidente.

A situação é tão grave que o agrotóxico que foi usado na pulverização é exatamente um dos que o IBAMA havia proibido a aplicação em pulverização aérea devido à morte de abelhas e depois voltou atrás, sucumbindo ao lobby das empresas.

O Engeo Pleno (nome do agrotóxico aplicado) é um inseticida da Syngenta (empresa que comercializa o agrotóxico) e é constituído por uma mistura de lambda cialortrina e tiametoxan. O último é um neonicotinóide que está sendo proibido na Europa devido à associação com o colapso das colmeias.

Relatório da Câmara dos Deputados relaciona agrotóxico a câncer em Unaí

frei gilvander contra os agrotóxicos
frei gilvander contra os agrotóxicosComissão de deputados diz que incidência de câncer é três vezes maior. Documento pede criação de estudo específico sobre uso de agrotóxicos.

 
Frei Gilvander Moreira diz que o que o motivou a sair de Belo Horizonte e ir até Unaí, a 580 km de distância, para gravar o vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=DFGlST3ncTk), agora contestado na Justiça, foi sua relação afetiva com a cidade. Ele morou lá durante a infância, dos 4 aos 8 anos de idade. "Conheço a fundo a realidade do Noroeste de Minas, inclusive porque existe uma ordem dos Carmelitas lá em Unaí."
No vídeo polêmico, o frei entrevista uma moradora de Arinos, cidade vizinha a Unaí, dizendo que o feijão servido na merenda escolar está contaminado por agrotóxicos. A marca produtora do feijão entrou na Justiça alegando que foi difamada e o juiz da Comarca de Unaí determinou retirada do vídeo da internet em até cinco dias, sob pena de multa e prisão em flagrante do frei Gilvander e dos representantes legais do Google no Brasil.

Segundo o frei, o número de pessoas com câncer na região aumentou muito nos últimos anos. "É difícil encontrar uma família que não tenha algum parente que está com câncer ou morreu da doença. Eles vão de ônibus para Ribeirão Preto fazer tratamentos e agora, numa cidade com 80 mil habitantes, vão criar um Hospital de Câncer. Onde já se viu isso? É muito grave e estamos preocupados."

“Agrotóxicos violam direito humano à alimentação adequada”

Alan Tygel
Alan TygelDe acordo com Alan Tygel, membro da Coordenação Nacional da Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, o agronegócio atua como propulsor no uso de agrogóxicos no país.

Há três anos, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de consumo de agrotóxicos no mundo. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), dois terços dos alimentos consumidos, diariamente, pelos brasileiros estão contaminados pelos agrotóxicos, que contribuem para a insegurança alimentar da população e causam danos à saúde e ao meio ambiente.

Campanha é lançada na Zona da Mata mineira

Foli lançada no último sábado (25/8), em Juiz de Fora, na Zona da Mata, a "Campanha permanente contra os agrotóxicos e pela vida". A solenidade aconteceu no anfiteatro do Sindicato dos Bancários. O evento, organizado pelo Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais (Consea-MG), pela Comissão Regional de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável - Zona da Mata III e pelo Movimento dos Sem-Terra (MST), alertou a população para os riscos do consumo destes produtos agrícolas.

Agrotóxicos em monocultura de eucalipto intoxicam mais de 30 geraizeiros no Norte de Minas

Agrotóxicos em monocultura de eucalipto intoxicam mais de 30 geraizeiros no Norte de MinasDiversos casos de intoxicação foram relatados por famílias moradoras do Assentamento Vale do Guará, no município Vargem Grande do Rio Pardo. Cerca de 30 pessoas, entre elas, crianças, jovens e adultos, sentiram diversos sintomas depois que um avião pulverizador de agrotóxicos passou por uma enorme plantação de eucalipto. Segundo as vítimas, um inseto parecido com um piolho chegou a infestar as casas dos moradores, provavelmente, vindo da área de monocultura de eucalipto. A aplicação do defensivo por parte dos donos da plantação acabou poluindo o ambiente, causando grande mal estar entre as diversas pessoas.

O posto de saúde mais próximo ficou pequeno para tantas pessoas, todas com os mesmos sintomas. Náuseas, febre, vômitos, coceiras na pele foram os sintomas mais comuns. Pessoas que já tinham a saúde frágil ainda tiveram maiores complicações com a baixa imunidade, acabaram tendo ataque de outras doenças como gripes, resfriados e até alergia.

O pior é que as famílias não têm pra quem denunciar. Segundo elas, até pensaram em reclamar para o Conselho Municipal de Meio Ambiente, o Codema, porém proprietários das monoculturas de eucalipto possuem assento no conselho. Para as famílias a situação é de injustiça e impunidade.

Um prêmio à pioneira da agroecologia

A modéstia permeia as declarações da engenheira agrônoma Ana Primavesi quando ela se refere ao One World Award - o principal prêmio da agricultura orgânica mundial, conferido pela International Federation of Organic Agriculture Movements (Ifoam). Neste ano, foi ela a escolhida para receber a homenagem, na Alemanha.

Curta Agroecologia: vídeos de experiências que dão certo

Do site da ANA

A Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) lançou na Cúpula dos Povos na Rio+20 o projeto Curta Agroecologia, com pequenos documentários em vídeo retratando experiências em Agroecologia no Brasil. A ideia é dar visibilidade às iniciativas que vem dando certo em diversas regiões do país, e fomentar, nos diferentes setores da sociedade, o debate em defesa da mudança no modelo de desenvolvimento agrário brasileiro. É fundamental que as pessoas do campo e da cidade tenham clareza da importância da agricultura familiar camponesa e da alimentação saudável, bem como outros benefícios e avanços civilizatórios da agroecologia, pois só assim mudanças estruturais poderão ocorrer.

Na primeira fase do Curta Agroecologia foram produzidos quatro vídeos de aproximadamente 7 minutos. Cada um deles foi filmado numa região diferente, de modo a mostrar a eficiência da agroecologia na diversidade nacional. Quebradeiras – a resistência extrativista retrata a vida das quebradeiras de côco babaçú no Maranhão; Água boa é uma experiência de preservação de nascentes através da mobilização da agricultura familiar e da implantação de sistemas agroflorestais em Araponga, Zona da Mata de Minas Gerais; Redes auto-sustentáveis: alimentos agroecológicos no litoral norte do RS mostra agricultores/as agroecológicos/as produzindo alimentos saudáveis comercializados para a merenda escolar local, feiras e mercados próximos e contribuindo para a preservação do meio ambiente e o consumo consciente; o quarto vídeo, em fase de finalização, foi filmado no agreste da Paraíba, e mostra como o enfoque agroecológico viabiliza a convivência com o semiárido. Os vídeos foram realizados pelas produtoras Cipó Caboclo, Coletivo Catarse, Olhar Electromatto e Txai Filmes. O projeto contou com apoio da Oxfam, ActionAid, Misereor, Heifer e EED.

Agriculturas sem venenos: a Agroecologia aponta o caminho

Por Denis Monteiro

O campo agroecológico brasileiro, mobilizado na Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), pode contar com apoios importantes na sua luta política para mostrar que a Agroecologia é um caminho promissor para o futuro. Vários estudos, realizados por setores da Organização das Nações Unidas (ONU) e por equipes internacionais de pesquisadores independentes, confirmam que sistemas de produção desenhados e manejados de acordo com os princípios da ciência da Agroecologia têm muitas dimensões positivas: altas produtividades por área, estabilidade e resiliência, ou seja, são capazes de resistir a estresses ambientais, chuvas torrenciais e secas, comuns em nossa época de mudanças climáticas. Estes sistemas conservam a biodiversidade nativa e cultivada, usada livremente pelas comunidades, recuperam os solos, protegem e usam com responsabilidade as águas.

Além disso, geram trabalho digno no campo, democratizam a riqueza gerada pela agricultura e atuam na superação da pobreza rural, pois fortalecem a agricultura familiar camponesa e promovem maior autonomia dos agricultores frente aos mercados, seja de insumos, seja na comercialização da produção.

A silenciosa praga das lavouras no estado do Rio

do Globo

As lesões vermelhas no rosto, que vez ou outra se espalhavam para braços e pernas, não o fizeram parar de roçar a lavoura. Era seu ofício desde os 15 anos, de sol a sol. Por anos, conviveu com crises, mais ou menos intensas. Teve que amputar o dedo indicador direito, que encaroçou como uma espiga de milho. Para as lesões num braço, quase no osso, precisou fazer enxertos de pele. A audição, frágil, evoluiu para uma quase surdez. Vinte e cinco anos depois de os sintomas surgirem, mais de 40 dias de internação e biópsias, José de Andrade, de 77 anos, descobriu que podia ser mais uma vítima do uso indiscriminado de agrotóxicos. Era só ele e a enxada, sem capa ou máscara. Às vezes, até sem galochas.

— A gente macerava o veneno, que era em pó, com a mão, antes de misturar na água. Depois sentava para almoçar. Durante 30 anos usei os produtos sem proteção. Pegava sol, chuva, tudo. Aplicava contra o vento; saía todo molhado. Não sabia do risco — conta o agricultor, que estudou muito pouco e não entendia as instruções do rótulo dos produtos.
Um levantamento do GLOBO com base em dados do Datasus e do IBGE revela que o Rio tem altas taxas de mortalidade por câncer e suicídio — que pesquisas científicas sugerem ter associação com o uso de agrotóxicos — em três regiões agrícolas. O mapa de ocorrências desses dois problemas coincide com as manchas de produtividade de tomate, escolhido para a pesquisa por ser uma das principais culturas do estado e ter apresentado alto índice de resíduos tóxicos nas últimas análises.